Sunday, August 3, 2008

SUAZILÂNDIA

Definitivamente a cadência destes posts tem de ser regularizada…
Mas passemos ao tema anteriormente prometido: Visita à Swazilândia. Desta vez sem pneus furados ou outros acidentes de percurso, a viagem fez-se ligeirinha. Confesso que a pobreza da paisagem a transformou numa verdadeira travessia do deserto. A única diferença foi que, em vez de camelos, eram vacas os animais que constantemente se atravessavam no nosso caminho.
O meu destino repartia-se por três locais: Manzini, capital económica (se se pode aplicar este conceito na Swazi), Mbabane (sede do Reino) e Elzuwini, a zona mais turística do País situada entre aquelas duas cidades. De fora, desta vez, ficaram os parques naturais e Reservas (Game Parks) onde se podem realizar Safaris a preços muito acessíveis.
Manzini e Mbabane têm uma coisa em comum: nunca mais lá volto. Enquanto esfreguei um olho, vi as duas cidades e não têm interesse nenhum. Elzuwini é uma zona agradável. Mas não mais. O que faz esta viagem valer a pena, mesmo quando a alma é pequena, são as inúmeras actividades com que esta se pode distrair e que se concentram nesta área: passeios de cavalo, quad bikes (moto 4), tracking, spa, golf, casino e mais umas quantas agradáveis formas de compensar a semana de trabalho.
Neste fim de semana em particular, destaco o repasto no restaurante “Calabash” (onde comi principescamente a preços da plebe) e a visita que na manhã seguinte fiz à “cultural village” onde tive a oportunidade de conhecer o rosto mais tradicional deste povo.
Aqui registei algumas regras sociais que, provenientes de uma comunidade tão arcaica, me surpreenderam por responderem e apresentarem solução para alguns problemas hodiernos das sociedade ocidentais. Para ponderar (e para quem pensava que vinha aí momento sério…):
1º A habitação de um mulher normalmente é composta por três cabanas: um quarto e duas cozinhas; A zona do homem tem dois quartos: Um para dividir com a mulher e outro para, quando a paciência se esgota, dormir sozinho ou mesmo trazer o escritório para casa quando tem de “trabalhar” até mais tarde com a secretária...
2º - Uma cabana da aldeia está reservada apenas às mulheres. Neste espaço podem conversar sobre os seus assuntos preferidos sem “incomodar os homens da aldeia”. Outra cabana é área exclusiva só para os homens, onde se discutem temas sérios (embora não me pareça que a crise do sub-prime americano vá ser ali abordada). Para garantir que a mulher não tem aspirações a participar nas conversas dos homens, estas estão proibidas de comer miolos de vaca, pois podem adquirir a inteligência desta e começar a mandar “bitaites” em assuntos que necessariamente não dominam…
Paradoxalmente, a figura mais importante e mais acarinhada da comunidade é a “grand-mother”…
Muito bom!
Por fim, assisti a algumas danças tradicionais e a cânticos que realmente valeram a pena. Com a “Execution Rock” servindo de pano de fundo, tomamos plena consciência de estar bem longe da Europa, do Ocidente, do Homem como o conheço(cemos); e no colo de África, da Mãe Natureza. E a sensação é bem confortável!

Perspectiva da aldeia - A senhora tem prioridade porque vem da direita, mas neste local não consta que ocorram muitos acidentes na via pública.

Vóvó Aldeia


O guia que partilhou comigo e Cláudio (recente aquisição da empresa para Moçambique) o segredo de uma sociedade perfeita (brincadeira...). Só desconfio que o nome dele era um golpe de marketing demasiado forçado: vestido com aquela côr e diz que se chama Bongani?? Pensa que por acrescentar um "n" já fica subliminar??

Parte das danças a que assistimos.


Uns quantos felizardos tiveram a oportunidade de dançar com os habitantes da aldeia...


Na ida, durante a estadia e no regresso: seja em estradas nacionais ou auto-estradas, as vacas têm sempre prioridade...

Sunday, July 27, 2008

“A culpa foi da máquina”…

OK. Reconheço que o factor humano também teve responsabilidade. Admito que para além da avaria sofrida pelo cartão de memória da minha máquina fotográfica, as mãos também não ajudaram a fazer uso desta nos últimos tempos. O importante no entanto é que ambos os problemas se encontram debelados. Assim, o blog está de volta!
Para minha surpresa, foi em número muito superior ao esperado que muitas pessoas não se importaram de ignorar as minhas "nódoas ortográficas" em nome de recordarem ou conhecerem o belo pano (como uma colorida capolana) que se estende junto ao Índico que é Moçambique.
A todos, muitíssimo obrigado. Para além de me sentir muito lisongeado, sinceramente fico sobretudo feliz por sentir que essa adesão resulta essencialmente do facto de estar a conseguir, de algum modo, partilhar a minha experiência neste lindíssimo País…. Mas amanhã vou falar de outro:


WELCOME TO SWAZILAND!
Beijos e abraços a todos!

Sunday, May 4, 2008

Arquitectura em Maputo

Este fim de semana poderia ter sido prolongado. Mas não foi. Bolas!
Como é habitual, apenas na quarta-feira ao final do dia procurei agendar umas mini-férias de 1 a 4 de Maio. Novas músicas no Ipod (Mingas, cantora moçambicana, é sublime) e livro comprado ("Memórias em voo rasante", de Jacinto Veloso, conta na primeira pessoa a história contemporânea deste País), tratei de reservar alojamento na praia do Bilene.

Sem surpresas, estava tudo lotado…
Virei o mapa 90º (clock-wise) e mantive a linha recta do meu trajecto.
Desta forma iria parar à Suazilândia. Queria ficar na zona de Ezulwini, que em Zulu significa “Paraíso”, mas também aí tudo estava esgotado.
Explicação: na África do Sul, três feriados esta semana!
Nos dias 28 de Abril, 1 e 2 de Maio não houve trabalho para ninguém (os “Boers” têm aquele bendito sistema de transferir os feriados que recaiêm num Domingo para outra data que incida em dia útil (que deixa, portanto, de o ser). Ideia maravilhosa! Sobretudo porque também adoptada aqui em Moçambique, segundo me informaram!
Em resumo, fiquei trancado em Maputo.

Peguei na máquina e fui passear pela cidade. Decidi desta vez dar oportunidade a alguns edifícios incógnitos de Maputo (para verem a Estação de Caminhos de Ferro, o Liceu, o Cine-Africa, o Hotel Polana, etc, poderão facilmente fazê-lo noutros “sítios”) que representam dois traços arquitectónicos de épocas bem distintas mas ambas muito presentes nesta cidade: colonial e "art-deco" (segundo li num folheto qualquer…).
A escolha dos tons sépia, numas, e preto e branco, noutras, teve como objectivo não conseguir um maior “glamour” das imagens, mas unicamente amenizar o avançado estado de degradação da maioria dos edifícios retratados.
Espero sinceramente que saibam aproveitar a oportunidade e recuperem estes e muitos outros edifícios, em vez de os demolir e construir as aberrações a que assistimos em tantos locais de Portugal.













Saturday, April 26, 2008

Massa cinzenta...

Parecem anedota, mas foram dois casos reais por que passei com as autoridades locais na sua missão para equilibrar a capacidade contributiva entre os "visitantes" e aqueles:
Certa noite, o Diogo (com quem estou a trabalhar aqui em Moçambique) e eu fomos parados por um polícia enquanto seguíamos de carro a caminho do bar "Gil Vicente" onde iamos saborear uma Laurentina e a guitarra do Nanando (artista local). Alegou o "cinzentinho" (nome que vem da cor dos seus uniformes) que teríamos pisado um traço contínuo. Estupefactos, explicámos ao polícia que naquele local não havia nenhum traço contínuo. Resposta da autoridade "Tem traço contínuo, não está é visível." ... Acabámos na esquadra e de facto concluiu-se que cometemos uma outra infracção rodoviária, mas obviamente não a apontada. Sendo justo e de lei, pagámos a competente e devida multa.
Segundo caso: Num domingo à tarde ia a passear calmamente pela Mao Tse Tung (sim, aqui as ruas não têm "faixa" direita: Mao Tse Tung, Karl Marx, Vladimir Lenin, Ho Chi Min, etc), a gozar um dos meus primeiros passeios pedestres pelas belas avenidas desta cidade de Maputo quando sou abordado por outro "cinzentinho". "A sua identificação, por favor". "Com certeza, senhor agente". Uma vez que a discricionariedade da polícia não deve ser, em lado nenhum do Mundo, sinónimo de arbitrariedade, questionei-o do motivo para aquela abordagem. "Ehhh...Tivemos uma denúncia que estava um cidadão estrangeiro a circular sem identificação."
...
Como era domingo e eu também tinha tempo, após alguma conversa obviamente continuei o meu passeio sem qualquer penalização.
E apesar do Sol a isso apetecer, o "cinzentinho" naquela tarde não bebeu "refresco"...

Thursday, April 24, 2008

Às portas da Swazi

Como a burocracia é palavra conhecida (e repetida) no Mundo inteiro, o contrato de "leasing" para o carro que me estava destinado demorou cerca de dois meses a ficar formalizado. Neste momento, já posso ouvir CD's, e com som bem alto, porque os vidros estão fechados já que o ar condicionado isso permite e aconselha.
Mas até muito recentemente, tive de usar outro veículo. A "máquina" que conduzia dividia-a com o Sr. Massango, que a usava nas suas funções de estafeta.
Dei-me bem com aquele irrequieto motor, falsamente potenciado pelo som da panela rota, mas parece que acabei por abusar dele.
Tive de me deslocar à Swazilandia porque o meu passaporte precisava de mais um carimbo para continuar a poder exibir-se aos polícias que inevitável e diariamente me mandam parar. Fui eu e o meu director/colega de expedições.
Fizemos-nos à estrada e a viagem até foi mais rápida do que o esperado porque o vento estava de feição (ou então eu é que ia sem pressa a apreciar o verde em redor).
Na fronteira, processo tranquilo.
A Swazilandia é muito bonita. Pelo menos os 7 Km que vi...
Ao primeiro Km furou-se um pneu. Verifiquei que os pneus deviam estar num regime de dieta rigoroso, a adivinhar pela espessura dos mesmos. Desta forma, o furo não era apenas um azar de percurso.
Pneu trocado, ânimo renovado. "Na próxima localidade remendamos o pneu. Mbabane (capital), aí vamos nós!".
Alguns Kms depois, parámos num posto de controlo onde todos os veículos e ocupantes são examinados por dois zzzzz..elosos militares. Saímos e verificamos que outro pneu se acabara de furar!
Três/quatro horas depois estavamos de regresso a casa (já não havia espírito aventureiro que resistisse).
Da Swazi, para já ficam estas recordações.E já não são más, porque os tropas, apenas armados com boa disposição, deixaram a sua marca.
"You come back, my friend!"
Voltarei, mesmo porque quero conhecer o resto da Swazilandia (que deve ter, pelo menos, mais 7 Kms).
Curiosidade: Neste País, uma vez por ano o Rei escolhe uma rapariga virgem para ser a sua nova mulher (penso que acumula, não substitui). Mas lá também é 2008. Engraçado, isto do tempo. Quando soube pensei que lá fosse séc. XI ou algo por aí...

Já com o pneu suplente,

Mas a precisar de outro...

My friends

Monday, April 21, 2008

"Tchilar"...

No sábado fui visitar a “Maragra”, uma empresa açucareira na Província de Gaza, mesmo a norte de Maputo. Visitei também uma pequena exploração de jatropha (quem quiser saber mais sobre esta planta e seu propósito, pesquise).
Atendendo ao facto de ser sábado e às 7h30m já andar na estrada em trabalho, considerei que era mais do que merecido um pequeno passeio por aquela zona. Aproveitando a proximidade da praia do Bilene, decidi ir lá almoçar e “tchilar” (adoro a forma como adaptam os termos em inglês para a nossa língua) um pouco.
Adorei a beleza natural, expressa de diversas formas, que tive oportunidade de apreciar.
Tirei o contacto do lodge e num dos próximos fins de semana devo ir lá descansar…



Nota do autor: Esta fotografia é apenas um pequeno apontamento humorístico destituída de qualquer carácter sexista. Na verdade, o que me encantou foi apenas e só a tatuagem. Diria mesmo que o interesse foi unicamente cultural: fiquei intrigado se teria alguma simbologia local. ;)

Sunday, April 20, 2008

A Reunião

Uns dias mais tarde do que o combinado, venho complementar o meu post anterior.
No dia 17 deste chuvoso mês (aí e aqui), reunimo-nos (finalmente) com as comunidades da área onde nos pretendemos instalar.
Quando chegámos ao local da reunião, uma pequena clareira no meio de mato, aguardavam por nós cerca de 300 pessoas. Sentadas no chão, esperavam pacientemente para saciarem o estômago e a curiosidade relativamente ao nosso projecto.
Fiquei positivamente surpreendido pelo facto de pessoas tão simples, perante membros de várias instituições do Estado, não se terem coibido de apresentar as suas questões, receios, anseios, apresentado pedidos ou apenas partilhado a sua opinião relativa à nossa chegada.
Infelizmente, anteriormente outros vieram com promessas de emprego e abundância, e mais não deixaram do que dívidas salariais a pessoas que ganham cerca de 35 euros por mês e para quem alimentar-se é o grande desafio que diariamente se renova.
No final, foi consensual a aceitação dos novos vizinhos. Ainda bem!
De seguida, realizou-se um cerimonial reservado a que tive o prazer e a honra de assistir. Nele, os mais velhos invocaram os espíritos dos mortos para que abençoem a terra e para que esta “parceria” se repercuta de forma positiva nesta comunidade.
Ainda antes do almoço, coloquei no ecrã do meu computador, estrategicamente colocado em cima de uma mesa (que por sua vez estava encavalitada noutra) para que todos pudessem ver (se isso é possível quando o ecrã tem 17” e as pessoas são 300), algumas das imagens da nossa empresa e de projectos semelhantes que desenvolvemos noutros países.
Anexo algumas fotos para que, remotamente, possam ter uma ideia daquilo que foi este dia.
À comunidade, pela recepção, tabonga!


(Com o Régulo)

(aspecto geral da reunião)

(Onde está o Wally?)