Saturday, April 26, 2008

Massa cinzenta...

Parecem anedota, mas foram dois casos reais por que passei com as autoridades locais na sua missão para equilibrar a capacidade contributiva entre os "visitantes" e aqueles:
Certa noite, o Diogo (com quem estou a trabalhar aqui em Moçambique) e eu fomos parados por um polícia enquanto seguíamos de carro a caminho do bar "Gil Vicente" onde iamos saborear uma Laurentina e a guitarra do Nanando (artista local). Alegou o "cinzentinho" (nome que vem da cor dos seus uniformes) que teríamos pisado um traço contínuo. Estupefactos, explicámos ao polícia que naquele local não havia nenhum traço contínuo. Resposta da autoridade "Tem traço contínuo, não está é visível." ... Acabámos na esquadra e de facto concluiu-se que cometemos uma outra infracção rodoviária, mas obviamente não a apontada. Sendo justo e de lei, pagámos a competente e devida multa.
Segundo caso: Num domingo à tarde ia a passear calmamente pela Mao Tse Tung (sim, aqui as ruas não têm "faixa" direita: Mao Tse Tung, Karl Marx, Vladimir Lenin, Ho Chi Min, etc), a gozar um dos meus primeiros passeios pedestres pelas belas avenidas desta cidade de Maputo quando sou abordado por outro "cinzentinho". "A sua identificação, por favor". "Com certeza, senhor agente". Uma vez que a discricionariedade da polícia não deve ser, em lado nenhum do Mundo, sinónimo de arbitrariedade, questionei-o do motivo para aquela abordagem. "Ehhh...Tivemos uma denúncia que estava um cidadão estrangeiro a circular sem identificação."
...
Como era domingo e eu também tinha tempo, após alguma conversa obviamente continuei o meu passeio sem qualquer penalização.
E apesar do Sol a isso apetecer, o "cinzentinho" naquela tarde não bebeu "refresco"...

Thursday, April 24, 2008

Às portas da Swazi

Como a burocracia é palavra conhecida (e repetida) no Mundo inteiro, o contrato de "leasing" para o carro que me estava destinado demorou cerca de dois meses a ficar formalizado. Neste momento, já posso ouvir CD's, e com som bem alto, porque os vidros estão fechados já que o ar condicionado isso permite e aconselha.
Mas até muito recentemente, tive de usar outro veículo. A "máquina" que conduzia dividia-a com o Sr. Massango, que a usava nas suas funções de estafeta.
Dei-me bem com aquele irrequieto motor, falsamente potenciado pelo som da panela rota, mas parece que acabei por abusar dele.
Tive de me deslocar à Swazilandia porque o meu passaporte precisava de mais um carimbo para continuar a poder exibir-se aos polícias que inevitável e diariamente me mandam parar. Fui eu e o meu director/colega de expedições.
Fizemos-nos à estrada e a viagem até foi mais rápida do que o esperado porque o vento estava de feição (ou então eu é que ia sem pressa a apreciar o verde em redor).
Na fronteira, processo tranquilo.
A Swazilandia é muito bonita. Pelo menos os 7 Km que vi...
Ao primeiro Km furou-se um pneu. Verifiquei que os pneus deviam estar num regime de dieta rigoroso, a adivinhar pela espessura dos mesmos. Desta forma, o furo não era apenas um azar de percurso.
Pneu trocado, ânimo renovado. "Na próxima localidade remendamos o pneu. Mbabane (capital), aí vamos nós!".
Alguns Kms depois, parámos num posto de controlo onde todos os veículos e ocupantes são examinados por dois zzzzz..elosos militares. Saímos e verificamos que outro pneu se acabara de furar!
Três/quatro horas depois estavamos de regresso a casa (já não havia espírito aventureiro que resistisse).
Da Swazi, para já ficam estas recordações.E já não são más, porque os tropas, apenas armados com boa disposição, deixaram a sua marca.
"You come back, my friend!"
Voltarei, mesmo porque quero conhecer o resto da Swazilandia (que deve ter, pelo menos, mais 7 Kms).
Curiosidade: Neste País, uma vez por ano o Rei escolhe uma rapariga virgem para ser a sua nova mulher (penso que acumula, não substitui). Mas lá também é 2008. Engraçado, isto do tempo. Quando soube pensei que lá fosse séc. XI ou algo por aí...

Já com o pneu suplente,

Mas a precisar de outro...

My friends

Monday, April 21, 2008

"Tchilar"...

No sábado fui visitar a “Maragra”, uma empresa açucareira na Província de Gaza, mesmo a norte de Maputo. Visitei também uma pequena exploração de jatropha (quem quiser saber mais sobre esta planta e seu propósito, pesquise).
Atendendo ao facto de ser sábado e às 7h30m já andar na estrada em trabalho, considerei que era mais do que merecido um pequeno passeio por aquela zona. Aproveitando a proximidade da praia do Bilene, decidi ir lá almoçar e “tchilar” (adoro a forma como adaptam os termos em inglês para a nossa língua) um pouco.
Adorei a beleza natural, expressa de diversas formas, que tive oportunidade de apreciar.
Tirei o contacto do lodge e num dos próximos fins de semana devo ir lá descansar…



Nota do autor: Esta fotografia é apenas um pequeno apontamento humorístico destituída de qualquer carácter sexista. Na verdade, o que me encantou foi apenas e só a tatuagem. Diria mesmo que o interesse foi unicamente cultural: fiquei intrigado se teria alguma simbologia local. ;)

Sunday, April 20, 2008

A Reunião

Uns dias mais tarde do que o combinado, venho complementar o meu post anterior.
No dia 17 deste chuvoso mês (aí e aqui), reunimo-nos (finalmente) com as comunidades da área onde nos pretendemos instalar.
Quando chegámos ao local da reunião, uma pequena clareira no meio de mato, aguardavam por nós cerca de 300 pessoas. Sentadas no chão, esperavam pacientemente para saciarem o estômago e a curiosidade relativamente ao nosso projecto.
Fiquei positivamente surpreendido pelo facto de pessoas tão simples, perante membros de várias instituições do Estado, não se terem coibido de apresentar as suas questões, receios, anseios, apresentado pedidos ou apenas partilhado a sua opinião relativa à nossa chegada.
Infelizmente, anteriormente outros vieram com promessas de emprego e abundância, e mais não deixaram do que dívidas salariais a pessoas que ganham cerca de 35 euros por mês e para quem alimentar-se é o grande desafio que diariamente se renova.
No final, foi consensual a aceitação dos novos vizinhos. Ainda bem!
De seguida, realizou-se um cerimonial reservado a que tive o prazer e a honra de assistir. Nele, os mais velhos invocaram os espíritos dos mortos para que abençoem a terra e para que esta “parceria” se repercuta de forma positiva nesta comunidade.
Ainda antes do almoço, coloquei no ecrã do meu computador, estrategicamente colocado em cima de uma mesa (que por sua vez estava encavalitada noutra) para que todos pudessem ver (se isso é possível quando o ecrã tem 17” e as pessoas são 300), algumas das imagens da nossa empresa e de projectos semelhantes que desenvolvemos noutros países.
Anexo algumas fotos para que, remotamente, possam ter uma ideia daquilo que foi este dia.
À comunidade, pela recepção, tabonga!


(Com o Régulo)

(aspecto geral da reunião)

(Onde está o Wally?)



Thursday, April 17, 2008

Caprichos Reais...

Hoje acordei às 4h00m para uma longa viagem. Tive de participar numa reunião com uma comunidade onde a empresa onde trabalho se pretende instalar.
A reunião, para além de aberta a todos os membros da comunidade que queiram participar, conta com a presença fundamental e muito respeitada do Régulo. Este é o símbolo da sabedoria e sensatez daquela comunidade. Geralmente, o ancião da aldeia.
Para preparar a reunião, verifiquei se tinha todo o material necessário à boa execução da mesma. A saber: Caderno e caneta onde pudesse apontar as sugestões, dúvidas e reclamações dos meus interlocutores; a Lei do Uso e Aproveitamento da Terra, não fosse suscitada alguma questão técnica no momento; computador com diversas apresentações multimédia da empresa, para lhes dar um conhecimento mais aprofundado daquela; algum "merchandising" para cair nas boas graças daquela boa gente; e finalmente, máquina fotográfica para registar algum momento especialmente relevante.
O Régulo também se preparou. Mas como a responsabilidade de arranjar o material é nossa (que de facto somos os mais interessados no negócio), pediu a um funcionário do Estado que me enviasse uma sms com o material para preparar a mesma reunião. A saber: 1 pano preto; 1 pano branco; 1 pano vermelho; 1 maço de cigarros; 25kg de arroz; 1 cabrito e 2 galinhas (vivos); 2 litros de óleo de cozinha; 2kg de batata; 5 litros de vinho; 1 caixa de cerveja; 1 caixa de "refresco" (normalmente coca-cola); 2kg de açucar; 1 embalagem de bebida seca(??), cebola, alho e 300 meticais (cerca de 8 euros)...
Amanhã conto como foi!

Wednesday, April 16, 2008

Fungagá da Bicharada

Logo num dos primeiros dias em Moçambique desloquei-me à África do Sul em trabalho. Viagem curta, feita num veículo todo-terreno (ou como aqui se diz, num "four by four"). Começámos o trabalho bem cedo (aqui é frequente acordar às 6h00) e isso permitiu que após o almoço ganhássemos umas horas extra no dia. Assim, no regresso tínhamos a possibilidade de optar pelo mesmo caminho ou, por apenas mais 8 euros (se o câmbio não me falha), tomar outro um pouco mais sinuoso: o Kruger Park (nome em homenagem a Paul Kruger. Quem quiser saber mais, e uma vez que já está com a internet ligada, só precisa pesquisar).
Aventurámo-nos então por este parque nos ultimos 100 km do trajecto em direcção à fronteira.
Ficou a vontade de lá voltar breve, breve.

No entanto, deve ser mais interessante visitar o Kruger na época seca. A vegetação agora existente, frondosa é certo, descaracteriza um pouco o imaginário que tenho dos safaris, com a vegetação bem rasa e seca. Quem visitar este Parque lá para Julho, vai viver uma experiência extraordinária. Então se for em lua-de-mel...
Aqui ficam uma fotografias da bicharada.




Tuesday, April 15, 2008

No início era o caos...

… O que determinou que apenas nesta data, dois meses após a minha chegada a Moçambique, tenha finalmente iniciado o que há muito tinha cogitado: escrever um blog.
Desta forma, família, amigos, colegas (e os que são as duas coisas) ou outras pessoas com graves problemas de insónias poderão ir acompanhando as minhas aventuras por este fantástico País. Aos que permanecerem fiéis a este blog (olá família!), muito obrigado.
Após estes dois primeiros meses já coleccionei algumas histórias, episódios, aventuras e sensações que merecem ser compartilhadas. Assim, nos primeiros dias os episódios relatados suceder-se-ão a uma cadência superior à real (esperemos), mas não posso deixar de eternizar aqui alguns dos momentos que já vivi. Para quem é fã da série "24", isto não vai custar nada.
Espero que gostem e que considerem sempre as vossas visitas a este blog como 30 segundos bem agradáveis do vosso dia.
Despeço-me, com uma expressão fabulosa que por aqui se ouve muito e que sintetiza bem o espírito que preside a este blog: Estamos juntos!
Só peca por não estar acompanhada do sorriso de quem normalmente a profere. E daí…